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ESQUADRÕES (QUASE) CAMPEÕES - BOTAFOGO 2007

O Botafogo de 2007: Carrossel Alvinegro


Olá, pessoal! Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo? Tirando a poeira que habitava neste blog, cá estou para mostrar uma novidade bacana para vocês. O ESQUADRÕES (QUASE) CAMPEÕES trará sempre equipes marcantes que fizeram a alegria do torcedor, mas que, por detalhes, não conseguiram levantar uma taça sequer. Na estreia, um time que o torcedor alvinegro insiste em não esquecer. O Botafogo de 2007, treinado por Cuca, foi um caso de amor intenso. Naquele ano, o botafoguense sorriu, sofreu, pulou, chorou... enfim, pode experimentar diversos tipos de emoções, tanto as boas quanto as más. O elenco misturava jogadores conhecidos no cenário nacional com outros que ainda buscavam o seu lugar ao sol. Do auge ao declínio, iremos abordar os motivos que fizeram o Glorioso não lograr êxito numa temporada que tinha tudo para ser extremamente vitoriosa.

Após um 2006 positivo - apesar do meio de tabela no Brasileirão, sagrou-se campeão carioca -, o Botafogo planejava seu elenco para os desafios do ano que se iniciava. Conseguira manter o seu maior destaque: o meia Zé Roberto, premiado como Bola de Prata de melhor meia pela Revista Placar. No entanto, alguns medalhões pegaram uma rota distante de General Severiano, casos de Scheidt, Ruy, Junior César e Claiton. O trunfo de Carlos Augusto Montenegro, vice de futebol à época, era um nome bem conhecido da torcida alvinegra. Dodô, até então reserva no Goiás, chegou com status de ídolo e principal esperança de gols para 2007. Junto com ele, apostas como Leandro Guerreiro, André Lima e Jorge Henrique, além da contratação dos veteranos Luis Mário e Ricardinho deram a tônica do que seria a montagem do plantel: nada de loucuras. O retorno do volante Túlio Guerreiro, que recusou investida do Fluminense, foi outra cartada certeira da diretoria botafoguense. Só que o início claudicante na Taça Guanabara, com direito a eliminação contra o Boavista, em Saquarema, mudou o panorama e fez com que o elenco fosse reavaliado.

Cuca pinçou reforços pontuais para encorpar seu grupo de atletas. Vieram Luciano Almeida e Alex Bruno, ambos jogadores para o sistema defensivo. Na meta alvinegra, o questionado Max deu lugar ao inexperiente Júlio César. E não é que tudo se encaixou !? O carismático Alexi Stival implementou um esquema pra lá de interessante naquele Botafogo. A equipe jogava em um 4-3-3 com variações para o 3-4-3 e o 4-5-1. Luciano Almeida, ex-Goiás, fazia o papel de terceiro zagueiro pela esquerda; o capitão alvinegro Juninho recuava para exercer a função de líbero; Alex fechava a trinca defensiva e Joílson avançava como queria pela ala direita. No meio, Leandro Guerreiro ficava à frente da zaga, Túlio tinha um tiquinho a mais de liberdade para avançar e Lúcio Flávio era a cabeça pensante, que fazia a bola rodar. Nas pontas, Jorge Henrique chegava para tabelar com Dodô e tinha a responsabilidade de marcar o lateral adversário e Zé Roberto exercia o papel de um segundo atacante, incisivo e driblador; Dodô era o centroavante, com a liberdade de se movimentar para abrir espaços para quem vinha de trás.



Uma das variações do Botafogo de Cuca em 2007
Apelidada de "Carrossel Alvinegro" pela constante movimentação e troca de posições, a equipe alvinegra não parava de fazer gols. O tino ofensivo era notável. O Friburguense, coitado, tomou de 7. Contra o Vasco, água no chope Cruz-Maltino; o 2 a 0 inapelável acabou com a festa reservada para o gol mil de Romário. E o duelo teria repeteco. Num dos clássicos mais loucos da história do Campeonato Carioca, pela semifinal da Taça Rio, os clubes empataram em 4 x 4 no tempo normal, após viradas dos dois lados. Nas penalidades, Júlio César foi o herói e a vitória acabou indo para o time de General Severiano. Veja os lances da peleja épica, que, mais uma vez, frustrou a todos que queriam o milésimo tento do baixinho.



Classificado para a final, o Glorioso encarou a Cabofriense, surpresa da competição. Após um 2 x 2 no primeiro jogo, que teve atuação digna de registro do goleiro Gatti, o Botafogo acabou com as esperanças do clube da Região dos Lagos e sacramentou a conquista no segundo jogo, com uma vitória tranquila por 3 a 1. Detalhe: em 20 minutos o placar já apontava uma diferença de três gols a favor do alvinegro. Vale destacar mais um golaço de Ricardo Lucas, o Dodô. Marcão, famoso por ser carrasco do Fogão em diversas ocasiões com a camisa tricolor, ficou de joelhos ao ser "dibrado" pelo craque, que fuzilou e estufou as redes do velho Maraca com a categoria que lhe era peculiar.



A tão esperada finalíssima do Carioqueta foi contra o Flamengo. Aliás, a partir desse ano começaria a ingrata sequência de vices do Glorioso contra o Rubro-Negro. Avassalador, o Botafogo terminou os primeiros 45 minutos do primeiro jogo da decisão com um incontestável 2 a 0. Dodô e Lúcio Flávio, este após passar por meio time vermelho e preto, mostravam toda a capacidade ofensiva daquele escrete. Porém, a sina da camisa 1 teria seu início naquele dia. Após fazer pênalti em Renato Abreu, Júlio César, último homem no lance, foi expulso e deu lugar a Max. O experiente guarda-redes não conseguiu defender a cobrança e ainda falhou no segundo tento do time da Gávea. O 2 a 2 ficou de bom tamanho para o clube da estrela solitária, por incrível que pareça. A segunda partida da final não ficou atrás no quesito emoção. Desta vez, quem saiu na frente foi o Fla, com Souza. Mas o Fogão buscou a virada com Juninho e Dodô, o último encobrindo lindamente o goleiro Bruno após tabela com Jorge Henrique. O que nenhum botafoguense esperava era que Renato Augusto tiraria da cartola um torpedo de fora da área para deixar tudo igual. Ainda teve tempo para um impedimento inexistente marcado contra o Bota, que resultou na injusta expulsão de Dodô por ter chutado a bola para o gol após a paralisação por parte do árbitro Djalma Beltrami. Nas penalidades, o ex-affair de Elisa Samúdio brilhou e garantiu o troféu para o Urubu.


"Impedimento" de Dodô na final contra o Fla é lembrado com desgosto pelos alvinegros até os dias de hoje
Ressaca do torneio regional curada, a Copa do Brasil afunilava. Após polêmica vitória contra o Atlético-MG (valeu, Simon!), o Botafogo estava na semifinal e ia duelar contra o Figueirense por uma vaga na decisão. Derrota de 2 a 0 em Floripa, sem contestação. Na volta, Maracanã abarrotado de alvinegros enlouquecidos e confiantes naquela equipe que fazia gols como quem ia à esquina comprar pão. Apesar dos equívocos da bandeirinha Ana Paula Oliveira, a equipe comandada por Cuca correspondeu às expectativas e construiu o placar de 2 a 0 depois de muito pressionar os catarinenses. Mas é claro que o final não poderia ser feliz. Eis que o jovem goleiro Júlio César, esperança de dias melhores na meta alvinegra, fez isso...





A cara de desespero de Cuca à beira do campo diz mais que qualquer palavra. O gol de Jorge Henrique nos minutos finais não valeu de nada. Com requintes de crueldade, o Botafogo estava eliminado da Copa do Brasil, caneco que até hoje não foi para a sala de troféus de General Severiano. Porém, a dolorosa derrota não desanimou o Glorioso para a sequência da temporada. A boa fase de jogadores como Zé Roberto, Dodô e Jorge Henrique parecia não ter fim. Os mais exaltados reivindicavam até uma vaguinha na Seleção Brasileira treinada por Dunga. Pois bem. O Brasileirão teve início e o Fogão já não era mais uma surpresa. Um começo impecável inebriou de esperança o sempre desconfiado botafoguense, com direito ao hit "E ninguém cala" sendo entoado a plenos pulmões nas arquibancadas. As vitórias deixaram o Bota na liderança por diversas rodadas, posição que não era rotina há tempos para o torcedor, que mesmo ressabiado acreditava que o clube brigaria pelo título até o fim. Mas se isso não acontecesse, a vaga na Libertadores ao menos já estava garantida. Só que o destino não seria tão generoso assim com o Botafogo. E aí acontece um caso pra lá de mal explicado: Dodô, símbolo do clube, é pego no doping por uso da substância Femproporex. O clube alegou que o erro foi ocasionado pela farmácia de manipulação que fornecia os suplementos para o clube. O jogo de empurra-empurra teve sérias consequências para o jogador, e também para o elenco. Acontecia ali o primeiro passo para tudo ruir. A suspensão preventiva do artilheiro abalou a todos. Ainda assim, as vitórias continuavam a ser praxe. Entretanto, os problemas no gol permaneciam. As contratações de Roger, eterno reserva de Rogério Ceni, e Marcos Leandro buscavam resolver essa questão. Ledo engano. 


Os goleiros alvinegros viraram piada. A "zica" no gol do Bota fez a camisa 1 rodar...

O esperado duelo contra o São Paulo de Muricy Ramalho estava prestes a acontecer. Apesar de não ser mais o líder do cotejo, o Fogão sonhava em retomar a ponta. E de fato era possível. Dois pontos distanciavam a equipe paulista do clube da estrela solitária na tabela, com a vantagem do alvinegro carioca ter um jogo a menos. Mas uma série de turbulências pré-jogo contribuíram para uma performance abaixo da média do alvinegro na partida. Acusado de chegar atrasado e, inclusive, embriagado no treino de véspera da "decisão", Zé Roberto foi afastado. Já o lateral Joílson foi acusado de ter assinado um pré-contrato com o Tricolor do Morumbi também na mesma semana, fato que se mostrou verídico ao fim da temporada. O Maracanã lotado testemunhou um resultado já esperado: 2 a 0 para o São Paulo. A lamentar, além da derrota, a expulsão de Túlio, que agrediu o atacante Leandro com um chute no rosto. Sim, um chute na bochecha, mais precisamente, que lhe rendeu uma suspensão de 120 dias pelo STJD. Todavia, o torcedor alvinegro continuava botando fé naquela equipe que o fez despertar e acreditar no sonho de ser campeão brasileiro. Olha que bonito gesto de apoio incondicional no finzinho do fatídico jogo contra o Soberano:




A riqueza de detalhes do início da temporada tem um porquê, caro leitor. O sonho palpável virou utopia. Problemas de suspensões, lesões e saídas de jogadores foram minando o alvinegro no decorrer de 2007. André Lima, um dos destaques ofensivos, foi vendido para o Herta Berlim-ALE. O clube tentou qualificar o elenco com uma série de contratações que não renderam frutos, casos de Athirson, Alessandro, Renato Silva, Reinaldo (o mesmo de 2006) e outros nomes menos conhecidos. Se nem tudo eram flores, também não era espinho. O Estádio Olímpico João Havelange enfim era propriedade do clube e o botafoguense se familiarizava cada vez mais com o popular Engenhão - hoje Niltão. Mais uma vez, o Fogão entrava em uma competição com esperanças de chegar longe. E internacional. Era a Copa Sulamericana. Na primeira eliminatória, vitória fácil sobre o Corinthians, o mesmo que seria rebaixado ao fim da temporada. Na fase seguinte, a chave colocou o tradicional River Plate da Argentina como adversário. No primeiro jogo do Engenhão sob a administração alvinegra, vitória por 1 a 0 com golaço de Joílson e festa dos 40 mil presentes. O Glorioso foi confiante para o país vizinho, afinal era a última chance de título no ano. Em pleno Monumental de Nuñez, o Botafogo de Futebol e Regatas estava com um jogador a mais e placar favorável de 2 x 1 na segunda etapa da peleja. E, para a tormenta do torcedor, lá veio uma pane inexplicável. Um irreconhecível Botafogo assistiu aos Milionários, que contavam com nomes como Falcão Garcia e Alexis Sanchez, marcarem três vezes nos últimos vinte minutos e virarem para 4 x 2. A desclassificação vexatória foi considerada um dos episódios mais vergonhosos da rica história alvinegra. E a derrota não ficou barata.


Épica classificação do River foi destaque no Diário Olé, com direito a trocadilho infame

A crise se instaurou em General Severiano. Protestos da torcida na chegada do elenco ao Rio de Janeiro, com direito a chuva de pipoca e calcinha, deram a tônica da situação. Cuca pediu demissão, Montenegro criticou duramente o plantel à imprensa e Mário Sérgio assumiu o time em meio a toda essa tempestade. Três jogos e três derrotas depois, o técnico voltou a ser o arrependido e impulsivo Cuca. Entretanto, todas os contratempos fizeram com que o Glorioso fraquejasse na disputa por uma vaga na Libertadores na reta final do Brasileirão. Nessa trajetória, vale ressaltar uma sublime vitória contra o Cruzeiro, em casa, num jogo em que o tão proclamado "Carrossel Alvinegro" pareceu ter retornado. 4 a 1, fora o baile, com um show de golaços.





E até hoje, em pleno 2016, o torcedor alvinegro se pergunta: por que esse time não levantou um troféuzinho? Os mais fanáticos chegam a comparar ao Brasil de 1982. O Botafogo de 2007 é um caso muito claro de que estrutura ganha, sim, jogo. Faltou proteger e dar suporte ao grupo de jogadores, saber lidar com situações inerentes ao sucesso e reforçar o elenco com os jogadores certos para mudar o cenário nebuloso do segundo semestre. As turbulências foram muitas e impactaram diretamente no rendimento da equipe. Cuca já era um grande técnico, mas ainda transmitia um bocado da sua insegurança aos seus comandados, além de agir à base de impulsos. Vale reiterar a ausência de peças de reposição no elenco, o que foi um baita problema para as ambições do clube ao longo da temporada. Pode até ser exagero, mas o apaixonado pelo chamado futebol-arte lamenta até hoje que esse Botafogo não tenha levado um caneco sequer para General Severiano. Nem Loco Abreu e Seedorf conseguiram remover esse time da memória do torcedor alvinegro. Era a grande chance de reviver 95 - talvez até superar, quem sabe. Não aconteceu, e as explicações não são lá muito plausíveis a ponto de determinar o porquê do fracasso. Definitivamente, 2007 é um ano histórico para o botafoguense. Pena que não da maneira idealizada. Tinha tudo para ser perfeito. Tinha...

Comentários

  1. Parabéns por esta ótima análise da equipe do Botafogo de 2007. Pouco acompanhava futebol neste ano por conta de minha pouca idade, mas até hoje ouço falar desse elenco bastante relembrado pelos torcedores alvinegros. Estava atrás de algum material que pudesse me esclarecer mais sobre esse assunto e sua publicação caiu como uma luva. Muito bem escrita e interessante, procurarei ler mais publicações do blog, esperando que estejam no mesmo nível dessa que acabei de ler. Valeu pelo belo post! 👍

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