Scolari, Parreira e Marin: Vilões? (Foto: Mowa Press) |
Dia 07 de Julho de 2014, 17:00. Estádio Mineirão. Copa do Mundo, quartas de final. Brasil x Alemanha. Começava, neste momento, uma partida para ficar marcada na história do futebol. Diria mais: na história do esporte. Um atônito time brasileiro, treinado por Luís Felipe Scolari, era massacrado, sem dó nem piedade, pelo time alemão. Ao final da primeira etapa, o esquadrão germânico ganhava de 5 a 0, resultado construído em meia hora de jogo, com 4 gols marcados num período de 6 minutos. Amantes do futebol encontravam-se perplexos não só em Belo Horizonte, mas em todo o mundo. Quando o relógio marcava 19:00 no horário de Brasília, placar final: Brasil 1 x 7 Alemanha. Nunca antes uma equipe havia sido tão humilhada em seus domínios. Emocional abalado, ausências de Neymar e Thiago Silva, fragilidade tática, fim do futebol brasileiro... Os motivos levantados são os mais variados. Segundo Felipão e sua trupe, é inexplicável. Será mesmo?
Eu já não consigo concordar com o Big Phil. É explicável até demais. O futebol brasileiro toma mais uma bofetada na cara, bem dada por sinal. Após inúmeros vexames recentes, tais como as péssimas campanhas dos times brasileiros na Libertadores deste ano, o Santos tomando de 8 para o Barcelona, Atlético-MG derrotado no Mundial de Clubes para o modesto Raja Casablanca, além da desorganização e do péssimo nível do Campeonato Brasileiro, somos obrigados a engolir uma derrota de SETE a UM, em território nacional, e achar que foi algo atípico, fruto de uma pane de 6 minutos.
Não. Não foi. E não é questão de oportunismo. Um título só seria a maquiagem da vez. Assim como foi a Copa das Confederações de 2013. A vitória na final, contra a Espanha, passou a ser exemplo. Ali foi o início do fim. Alternando altos e baixos na competição, a seleção brasileira teve uma noite excepcional naquela partida. O Maracanã em êxtase colaborou. O escrete canarinho venceu, com todos os méritos, a badalada seleção espanhola. Mas, ao contrário do que Scolari pensa, o futebol muda sim. Desde então, a seleção não evoluiu. Passou a viver desta vitória. Conclusão: parou no tempo. O tradicional "jeitinho brasileiro" mais uma vez foi solicitado. A soberba passou a ser a tônica, apesar da consciência, lá no fundo, de que não era bem assim. Aproveito para citar algumas frases emblemáticas de Felipão e Parreira antes e durante a Copa do Mundo:
- "O Hexa é obrigação!"
- "Estamos com uma mão na taça!"
- "Somos os favoritos e temos o dever de ganhar."
Pois é, deixamos de ser "A potência do futebol mundial" para nos tornarmos a PREpotência. A exagerada confiança foi indo por água abaixo no decorrer do torneio com atuações pobres, que nem de longe combinavam com os inflamados discursos da dupla. Disse antes, nesse mesmo blog, que estavam tentando utilizar a lesão de Neymar para "preparar o terreno" em caso de uma possível eliminação diante da Alemanha. A contusão foi tão falada que esqueceram de abordar o principal problema da seleção: sua formação em campo. Um esquema tático "duro", previsível, sem muitas alternativas, de repertório pobre e com um claro problema no meio-campo, setor verde-amarelo que funcionou como um tapete vermelho para os alemães. O Chile, com o esperto Jorge Sampaoli, já tinha explorado essa falha e controlado grande parte do jogo nas oitavas de final.
Mas Felipão é Felipão. Um Deus do futebol brasileiro, inquestionável. Quem não gostar, que vá pro inferno, segundo o mesmo. O pior de tudo é conferir a entrevista coletiva de toda a comissão técnica um dia após o fiasco. O treinador brasileiro, cheio de si, afirmou que foi só mais um jogo, vida que segue. Complementou dizendo que a derrota foi fruto de 6 minutos de "apagão". E dá-lhe blá blá blá. Curiosamente, a dupla mudou o discurso de "obrigação em ganhar" para "chegamos até as semifinais". O "circo" teve espaço até para cartinha de torcedora, lida por Carlos Alberto Parreira. Afinal, afirmar que a catástrofe foi só uma derrota de 7 a 1, e se fosse 1 a 0 daria no mesmo, é muito mais digno, não é mesmo? Coitada da Dona Lúcia. Definitivamente, a Humildade se tornou um artigo de luxo.
É lamentável constatar que o comandante da nossa seleção é o retrato de algo ultrapassado, retrógrado. Adjetivos que não têm mais espaço no futebol brasileiro. Felipão sempre será respeitado, pois tem muita história e méritos, claro, em sua trajetória. Mas o seu tempo já passou. Clamamos por renovação, ideias novas. Chega de Parreiras, Luís Felipes e Ricardos Teixeiras da vida. Empurrar a sujeira pra baixo do tapete é o mais fácil a ser feito nessas ocasiões e, infelizmente, é essa a filosofia da querida CBF. A esperança é a de que o "nocaute" sofrido contra a Alemanha sirva pra alguma coisa. Que seja o ponto de partida para uma série de mudanças. Sim, eu sei que é uma utopia pensar desta forma, mas sonhar nunca é demais. Faz tempo que não somos o país do futebol. Ontem, o Brasil perdeu todo o respeito, ou boa parte dele, conquistado em campo ao longo de muitos anos. Porém, o mais preocupante é a dignidade. Ela sumiu sem deixar vestígios.
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